Piaget

05-06-2009 00:00

 Principal problema que Piaget quer solucionar: Qual o propósito da educação?

  

Ideia Principal

O desenvolvimento do pensamento e da inteligência resultam da actividade e da interacção que o indivíduo estabelece com o meio, num processo continuo e activo, como resposta aos estímulos exteriores (construtivismo). O desenvolvimento apoia-se então em estruturas cognitivas que se vão organizando em estádios, com um sucessão regular, flexível e cada vez mais complexa.

 

Estádios de desenvolvimento

 

Estádio sensório-motor (0-18 meses):

 

  • A criança vai organizar os seus movimentos, situando-se cada vez mais como um objecto entre muitos outros, que vai aprendendo a manipular e conhecer
  • Na sua adaptaçãoao meio manipula e experimenta o seu próprio corpo, os objectos, aprende a utilizá-los de acordo com o seu interesse
  • Mobiliza as suas percepções, coordena a visão e a apreensão,
  • Passa progressivamente de um estado de indiferenciação do seu corpo, do espaço e dos outros, para um estado do seu conhecimento. È assim que constrói a “permanência do objecto”, fundamental na descentração de si e para o início da representação, período que se inicia com o aparecimento da linguagem

 

Estádio da representação ou pré-operatório (18 meses/2 anos – 5/6anos)

 

  • Início da função simbólica, ou seja, a criança começa a ser capaz de utilizar os objectos, o corpo e a linguagem como meios de representar outras coisas, a criança já é capaz de passar das experiências físicas
  • Começa a construir um processo lento de libertação do seu pensamento egocêntrico, pela capacidade de ao longo desta fase, de descentrar de si mesma, ficar sensível aos pontos de vista dos outros
  • É capaz de aceitar regras e respeitar normas, adapta-se cada vez mais a novas situações
  • É muito activa, curiosa, pergunta os porquês, tem necessidade de agir sobre o meio, revela muita actividade física e intelectual

 

Estádio das operações concretas (5/6 anos – 11/12 anos)

 

  • Entrada na escolaridade básica, a criança aprende a realizar operações concretas (classificar, seriar, pôr em correspondência...), através da manipulação dos objectos,
  • O seu raciocínio torna-se cada vez mais desenvolvido e complexo, desligando-se do concreto e da situação presente, relacionando o passado, o presente e o futuro, com a interiorização das noções de tempo
  • Desenvolve o conceito de reversibilidade das operações matemáticas e lógicas, pela capacidade de compreender que é possível voltar ao ponto de partida
  • Este é um período forte de estabelecimento de relações sociais com outros, verificando-se um grande desenvolvimento da socialização e da atenção aos pontos de vista dos outros (nomeadamente os seus pares).

Estádio da inteligência formal (a partir dos 11/12 anos)

 

  • Neste período, o desenvolvimento do pensamento ultrapassa o domínio do concreto, pelo que a criança/jovem, necessita cada vez mais de se apoiar em situações reais para reflectir e pensar sobre as “coisas”
  • O jovem é capaz de operações abstractas, raciocinar sobre enunciados verbais e formular hipóteses, combinando diferentes pontos de vista, e imaginando resultados ou processos que terão lugar em determinadas condições conhecidas e controladas.
  • A descentração de si é uma realidade e manifesta interesse pelo mundo à sua volta, nomeadamente no que respeita a interesses políticos e sociais.

Falar ainda dos conceitos de assimilação acomodação e equilibração, que são os processos quye acontecem em todos os estádios e que permitem a construção dos esquemas e estruturas cognitivas que permitem o desenvolvimento.

  1. Assimilação - incorporação de elementos do meio aos esquemas de acção do sujeito. O sujeito age e apropia-se do objecto do conhecimento
  2. Acomodação - modificação dos esquemas do sujeito em função do objecto que está a assimilar. O sujeito age no sentido de se transformar, para entrar em equilíbrio com o meio
  3. Equilibração - é um equilíbrio entre assimilação e acomodação com vista à adaptação do sujeito ao meio

Até ao início do século xx assumia-se que as crianças pensavam e raciocinavam da mesma maneira que os adultos. A crença da maior parte das sociedades era a de que qualquer diferença entre os processos cognitivos entre crianças e adultos era sobretudo de grau: os adultos eram superiores mentalmente, do mesmo modo que eram fisicamente maiores, mas os processos cognitivos básicos eram os mesmos ao longo da vida.

Piaget, apartir da pbservação cuidadosa dos seus próprios filhos e de muitas crianças, concluiu que em muitas questões cruciais as crianças não pensam como adultos por ainda lhes faltararem certas habilidades, a maneira de pensar é diferente, não somente em grau, como em classe.

A teoria de Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo é uma teoria de etapas, uma teoria que pressupõe que os seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis. 

Pressupostos básicos da sua teoria: 

O interacionismo, a ideia do construtivismo sequêncial e os factores que interferem no desenvolvimento.

A criança é concebida como um ser dinâmico, que a todo momento interage com a realidade, operando activamente com pessoas e objectos.

Essa interação com o ambiente faz com que construa estruturas mentais e adquira maneiras de fazê-las funcionar. O eixo central, portanto, é a interação organismo-meio e essa interação acontece através de dois processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio, funções exercidas pele organismo ao longo da vida.

A adaptação, definida por Piaget, como o próprio desenvolvimento da inteligência, ocorre através da assimilação e acomodação. Os esquemas de assimilação vão-se modificando, configurando os estágios de desenvolvimento.

Considera, ainda, que processo de desenvolvimento é influênciado por factores como: maturação (crescimento biológico dos orgãos), exercitação ( funcionamento dos esquemas e orgãos que implica na formação de hábitos), aprendizagem social (aquisição de valores, linguagem, costumes e padrões sociais e culturais) e equilibração (processo de auto-regulação interna do organismo, que se constitui na busca sucessiva de reequilíbrio após cada desequilíbrio sofrido).

A educação na visão Piagetiana:

Com base nesses prossupostos, a educação deve possibilitar à criança um desenvolvimento amplo e dinâmico desde o período sensório-motor até ao operatório abstrato. 

A escola deve partir dos esquemas de assimilação da criança, propondo actividades desafiadoras que provoquem desequilíbrios e reequilíbrios sucessivos, promovendo a descoberta e a construção do conhecimento.

Para construir esse conhecimento, as concepções infantis combinam-se às informações advindas do meio, na medida em que o conhecimento não é concebido apenas como sendo descoberto espontaneamente pela criança, nem transmitido de forma mecânica pelo meio exterior ou pelos adultos, mas, como resultado de uma interação, na qual o sujeito é sempre um elemento activo, que procura activamente compreender o mundo que o rodeia, e que busca a resolução das interrogações que este mundo provoca.

É aquele que aprende basicamente através das suas próprias acções sobre os objectos do mundo, e que constrói as suas próprias categorias de pensamento ao mesmo tempo que organiza o seu mundo. Não é um sujeito que espera que alguém que possui um conhecimento o transmita a ele por um acto de vondade.

Quando me refiro ao sujeito activo, não estou a "falar" de alguém que faz muitas coisas, nem de alguém que tem uma actividade observável. O sujeito activo a que me refiro, é aquele que compara, exclui, ordena, categoriza, classifica, reformula, comprova, formula hipóteses, etc...em uma acção interiorizada (pensamento) ou em acção efectiva (segundo seu grau de desenvolvimento). Alguém que esteja realizado algo materialmente, porém seguindo um modelo dado por outro, para ser copiado, não é habitualmente um sujeito intelectualmente activo.

Principais objectivos da educação:

Formação de homens "criativos, descobridores e com talento para a invenção", de pessoas críticas e activas, e na busca constante da construção da autonomia. 

Devo lembrar que Piaget não propõe um método de ensino, mas, ao contrário, elebora uma teoria do conhecimento e desenvolve muitas investigações cujos resultados são utilizados por psicólogos e pedagogos. 

Desse modo, suas pesquisas recebem diferentes interpretações que se concretizam em propostas didáticas também diversas.

Implicações do pensamento Piagetiano para a aprendizagem:  

Os objectivos pedagógicos necessitam de estar centrados no aluno, partir das actividades do aluno. Os conteúdos não são concebidos como fins em si mesmos, mas como instrumentos que servem ao desenvolvimento evolutivo natural.  Primazia de um método que leve ao descobrimento por parte do aluno ao invés de receber passivamente através do professor.

A aprendizagem é um processo construído internamente.

A aprendizagem depende do nível de desenvolvimento do sujeito.

A aprendizagem é um processo de reorganização cognitiva

Os conflitos cognitivos são importantes para o desenvolvimento da aprendizagem. 

A interação social favorece a aprendizagem.

As experiências de aprendizagem necessitam de se estruturar de modo a previligiarem a colaboração, cooperação e intercâmbio de pontos de vista na busca conjunta do conhecimento.

Piaget não aponta respostas sobre como ensinar, mas permite compreender como a criança e o adolescente aprendem, fornecendo um referencial para a identificação das possibilidades e limitações de crianças e adolescentes. Desta maneira, oferece ao professor uma actitude de respeito às condições intelectuais do aluno e um modo de interpretar as suas condutas verbais e não verbais para poder trabalhar melhor com elas.

Autonomia para Piaget:

Jean Piaget, na sua obra discute com muito cuidado a questão da autonomia e do seu desenvolvimento. Para Piaget a autonomia não está relacionada com o isolamento (capacidade de aprender sozinho e respeito pelo próprio ritmo - escola comportamentalista), na verdade entende Piaget que o florescer do pensamento autonomo e lógico operatório é paralelo ao surgimento da capacidade de estabelecer relações cooperativas. Quando os agrupamentos operatórios surgem com as articulações das instituições, a criança torna-se cada vez mais apta a agir cooperativamente.

No entender de Piaget ser autonomo significa estar apto a cooperativamente construir os sistema de regras morais e operatórias necessárias à manutenção de relações premiadas pelo respeito mútuo.

Piaget caracterizava "autonomia como a capacidade de coordenação de diferentes perspectivas sociais com o pressuposto do respeito recíproco".

Para Piaget (1997), a constituição do princípio de autonomia desenvolve-se juntamente com o processo de desenvolvimento da autoconsciência. No ínicio, a inteligência está calcada em actividades motoras, centradas no próprio indivíduo, numa relação egocêntrica de si para si mesmo. É a consciência centrada no "eu". Nessa fase a criança joga consigo mesma e não precisa de compartilhar com o outro. É o estado de anomia. A consciência dorme, diz Piaget,  ou é o indivíduo da não consciência. No desenvolvimento e na complexificação das acções, o indivíduo reconhece a existência do outro e passa a reconhecer a necessidade de regras, de hierarquia, de autoridade. O controle está centrado no "outro". O indivíduo desloca o eixo das suas relações de si para o outro, numa relação unilateral, no sentido então da heteronomia. A verdade e a decisão estão centradas no outro, no adulto. Neste caso a regra é exterior ao indivíduo e, por consequência sagrada. 

A consciência é tomada emprestada do outro, toda a consciência da obrigação ou do caracter necessário de uma regra pressupõe um sentimento de respeito à autoridade do outro. Na autonomia, as leis e as regras são opções que o sujeito faz na sua convivência social pela auto-determinação. Para Piaget, não é possível uma autonomia intelectual sem uma autonomia moral, pois ambas se sustentam no respeito mútuo, o qual, por sua vez, se sustenta no respeito a si próprio e reconhecimento do outro como ele mesmo.

A falta de consciência do "eu" e a consciência centrada na autoridade do outro impossibilitam a cooperação, em relação ao comum pois este não existe. A consciência centrada no outro anula a acção do indivíduo como sujeito. O indivíduo submete-se às regras, e pratica-as em função do outro.

Segundo Piaget este estágio pode representar a passagem para o nível de cooperação, quando, na relação, o indivíduo depara-se com condições de possibilidades de identificar o outro como ele mesmo e não como si próprio.

Na medida em que os indivíduos decidem com igualdade - objectivamente ou subjectivamente, pouco importa -, as pressões que exercem uns sobre os outros se tornam colaterais. E as intervenções da razão, que Bovet tão justamente observou, para explicar a autonomia adquirida pela moral, dependem, precisamente, dessa cooperação progressiva. De facto, os estudos têm mostrado que as normas racionais e, em particular, essa norma tão importante que é a reciprocidade, não podem se desenvolver senão na e pela cooperação. A razão tem necessidade da cooperação na medida em que ser racional consiste em " se " situar para submeter o individual ao universal. O respeito mútuo aparece, portanto, como condição necessária da autonomia, sobre o seu duplo aspecto intelectual e moral. Do ponto de vista intelectual, liberta a criança das opiniões impostas, em proveito da coerência interna e do controle recíproco. Do ponto de vista moral, substitui as normas da autoridade pela forma de ligação à própria acção e à própria consciência.

Piaget não aceita nas suas provas " ajudas externas", por considerá-las iniáveis para detectar e possibilitar a evolução mental do sujeito, Vygotsky não só as aceita, como as considera fundamentais para o processo evolutivo.

Se com Piaget tinha-se em linha de conta o desenvolvimento como um limite para adequar o tipo de conteúdo de ensino a um nível evolutivo do aluno, em progresso de forma adequada, impulsionando ao longo de novas aquisições, sem esperar o amadurecimento " mecánico" e com isso evitando que se possa pressupor dificuldades para prosperar por não gerar um desequilíbrio adequado. É desta concepção que Vygotsky afirma que a aprendizagem vai à frente do desenvolvimento.

Assim, para Vygotsky, as potencialidades do indivíduo devem ser levadas em conta durante o processo de ensino-aprendizagem. Isto porque, a partir do cotacto com uma pessoa mais experiente e com um quadro histórico-cultural, as potencialidades do aluno são transformadas em situações que activam nele esquemas processuais cognitivos ou comportamentais, ou que este tipo de convívio produza no indivíduo novas potencialidades, num processo contínuo. Como para ele a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento, a escola tem um papel essêncial na construção desse ser. A escola deveria dirigir o ensino não para etapas intelectuais já alcançadas mas sim, para etapas ainda não alcançadas pelos alunos, funcionando como incentivadora de novas conquistas, do desenvolvimento potencial do aluno... Na busca da "aretê".

A excelência humana...

 

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