Motivação no Desporto

16-04-2013 12:09

Refere-se a fatores da personalidade, variáveis sociais e cognitivas que entram em jogo quando uma pessoa assume uma tarefa em que é avaliada ou quando entra em competição com outros ou quando tenta atingir a excelência.

Assume-se que o indivíduo é responsável pela tarefa e existe sempre algum nível de competição inerente à tarefa. Esta circunstância provoca diferentes disposições motivacionais que influenciam o comportamento humano.

A motivação é mal compreendida no contexto desportivo. Um dos pontos mais mal compreendidos é o conceito de motivação que é sinónimo de agitação. É por isso que às vezes os treinadores utilizam táticas antes dos jogos para agitar os jogadores. Agitação e motivação são formas separadas e independentes. Na realidade a agitação pode minar a performance.

A segunda interpretação errada gira à volta daquilo a que os treinadores designam de “pensar positivo”. Há treinadores que frequentemente exortam os atletas a imaginarem-se eles próprios ganhadores ou a encontrar o sucesso em situações desportivas. O argumento por detrás destas instruções é que acreditando que pode ganhar ou ser bem-sucedido melhora a performance para obter um resultado positivo. Há provas que mantendo expectativas positivas pode ajudar a motivação. Contudo, as expectativas têm que ser realistas ou podem minar a motivação. Por outras palavras, a motivação não é simplesmente “ pensamento positivo”.

Por fim, muitos dos professores de educação física e treinadores crêem que a motivação é genética. Há treinadores que assumem que a parte mais íntima da motivação é inata e se algum atleta for considerado estar com a motivação em baixo então os treinadores não acreditam que isto não se pode alterar. Consequentemente, desistem com frequência desse atleta ou aluno. 

 

Mas a motivação não é considerada inata mas sim um atributo de aprendizagem em cada indivíduo.

A aquisição do comportamento é definida pelas dimensões da motivação:

  • Intensidade (porque uns estão mais motivados que outros o que leva a um maior esforço);
  • Direção (porque uns estão motivados para o basquetebol e outros para a ginástica);
  • Persistência (porque uns estão continuamente motivados).

 

No desporto os participantes esforçam-se mais, estão mais concentrados, são mais persistentes, mais atentos, têm melhores resultados, escolhem praticar mais e entram ou abandonam o desporto.

 

 

Teorias:

Existem numerosas teorias da motivação.

A partir da década de 60, verificou-se um aumento do interesse na compreensão das cognições dos indivíduos, isto é, o que cada um pensa e/ou o que cada um conhece.

 

 

  • Mecanicistas (relação direta entre os comportamentos dos indivíduos e as suas necessidades psicológicas; o homem é um ser reativo, ou seja, dependente das necessidades);

 

  • Cognitivistas (o homem é um ser reativo mais ativo, isto é, estrutura o seu comportamento com base nos seus processos percetivo–cognitivos; existe uma regulação cognitiva da motivação e do comportamento dos indivíduos, pois aquilo que pensamos se alicerça no que sentimos e determina o que fazemos)

 

Novas abordagens ao estudo da motivação – teorias socio-cognitivas (a teoria da atribuição foi a “mãe” destas teorias).

De acordo com esta teoria as pessoas não são guiadas por estímulos internos nem são automaticamente moldadas e controladas por estímulos externos. Ou seja, as pessoas avaliam os seus comportamentos, os seus pensamentos, e os acontecimentos e contextos em que estão envolvidos, de uma forma reciproca, e é a partir desse processo que antecipam as consequências futuras.

No concerne ao contexto da atividade física e desportiva, as abordagens socio-cognitivistas são:

 

  • Expectativas de autoeficácia
  • Objetivos de realização ou orientações cognitivas ou motivacionais
  • Competência percebida
  • Avaliação cognitiva

Expectativas de autoeficácia

Qual a minha perceção da capacidade ou crença sobre aquilo que eu posso fazer para atingir os meus objetivos? (o que importa sermos capazes se pensamos que não o somos?)

 Face às minha crenças eu vou definir os meus comportamentos.

Bandura: A auto-eficácia refere-se aos julgamentos dos indivíduos acerca das suas capacidades para organizarem e executarem os planos de ação requeridos para a obtenção de determinados tipos de rendimento. No entanto a auto-eficácia está relacionada não com as capacidades que cada um tem, mas sim com os julgamentos que ele faz sobre o que é possível fazer com as capacidades que possui.

Ao julgarem as suas capacidades em função das exigências das tarefas, os indivíduos tornam-se capazes de discernir relativamente às diferenças entre os objetivos estabelecidos e os resultados alcançados e, em consequência, de estruturar as suas expectativas no que respeita às suas possibilidades para alcançar os seus objetivos.

Bandura postulou a existência de 2 tipos de expectativas, ambas importantes para a compreensão dos comportamentos dos indivíduos;

Ø  Expectativas do resultado - crenças dos indivíduos relativamente ao que um determinado resultado poderá originar (expectativa sobre o resultado que eu vou ter)

Ø  Expectativas da eficácia pessoal - crenças dos indivíduos relativamente às suas capacidades pessoais, necessárias para organizar e colocar em ação as nuances específicas para alcançar um determinado nível de rendimento ou resultado (expectativa sobre a eficácia da minha capacidade para obter um resultado)

Apesar das expectativas do resultado serem importantes não garantem, que os indivíduos se envolvam na realização de uma determinada tarefa, nem predizem o rendimento do mesmo modo que o fazem as expectativas de auto-eficácia.

Contudo, um atleta pode possuir elevadas expectativas de eficácia pessoal relativamente a uma determinada tarefa e mesmo assim decidir não a realizar, simplesmente porque as suas expectativas de resultado são reduzidas, isto é, aquilo que ele pensa que irá alcançar caso execute com sucesso a tarefa em questão não se constitui como fator suficiente para ele decidir envolver-se na sua realização. Daí que tanto umas teorias como outras sejam importantes para uma mais completa compreensão dos comportamentos dos indivíduos em contextos de realização.

Para a estruturação das expectativas da auto - eficácia dos indivíduos, relativamente aos diferentes domínios em que se movimentam, contribuem informações provenientes de 4 fontes distintas:

  • Experiências pessoais de realização;
  • Experiências vicariantes;
  • Persuasão verbal;
  • Estado de ativação fisiológica.

 

1. - Experiências pessoais de realização: a obtenção de sucesso determina o aumento dos níveis de auto-eficácia, o insucesso origina o inverso, isto é, a sua diminuição. No entanto, nem sempre isto acontece, já que fatores como por exemplo a dificuldade relativa da tarefa, o esforço despendido ou o tipo de informações fornecidas por outros parecem intervir nestas relações, de uma forma mais ou menos pronunciada, em decorrência do modo como os indivíduos percecionam o que lhes aconteceu. As atribuições causais parecem assumir um papel importante no processo da estruturação da auto-eficácia.

 

2. - Experiências vicariantes: nem sempre as nossas experiências se constituem como a única fonte de informação sobre as nossas capacidades: em muitas ocasiões, aprendemos a agir de um determinado modo, ou avaliamos as nossas capacidades, em função do que observamos nos outros, isto é, por modelação. A observação das outras pessoas a realizarem com sucesso determinadas tarefas leva, em princípio, a que os indivíduos aumentem as suas expectativas de auto-eficácia, em consequência o grau de empenhamento colocado na execução dessas tarefas (observação de situações de sucesso – “eu também consigo fazer o que ele faz”).

A afirmação de que "parece fácil a quem nunca tentou" ilustra em certa medida o efeito exercido pelo primeiro dos fatores indicados; ou seja, aqueles que vem pela primeira vez alguém resolver com extrema facilidade uma determinada tarefa tendem a fiar-se mais na informação vicariante do que aqueles que já alguma vez tentaram realizar.

Quanto ao 2º, tem sido demonstrado que os que têm medo de executar um determinado exercício são mais recetivos à informação vicariante quando esta é relativa às pessoas percecionadas por eles como os seus similares, ou seja, que também têm medo.

 

3. - Persuasão verbal: Através da persuasão verbal é mais fácil diminuir as expectativas de auto-eficácia que aumentá-las, já que é muito mais natural que os indivíduos possuam um amplo repertório de experiências negativas anteriores ou, pelo menos, uma base mais limitada de qualquer tipo de experiência de sucesso. A eficácia de persuasão verbal depende de ela ser conduzida de forma realista. Não parece vantajoso tentar convencer um atleta de que não há outro resultado possível senão a vitória perante um adversário, que nas diversas vezes em que competiram anteriormente ganhou sempre com relativa facilidade. Também não é indiferente, no que concerne aos efeitos produzidos pela persuasão verbal ao nível da expectativas da auto-eficácia dos indivíduos, que a informação que lhes seja transmitida por uma pessoa detentora de um elevado estatuto perante eles (treinador), ou outra considerada desconhecedora das características e exigências implicadas pelas tarefas em causa.

4. - Estados fisiológicos dos indivíduos: tal como a anterior, esta fonte assume um impacto menos significativo ao nível das expectativas de auto-eficácia do que o exercido, pelas duas primeiras fontes de informação, designadamente pela primeira delas. Ainda assim a análise que os indivíduos efetuam dos seus estados de ativação fisiológica, contribui igualmente para a avaliação que fazem às suas capacidades e para a estruturação das suas expectativas de auto-eficácia. Por exemplo, um atleta que antes da realização de uma determinada competição percecione estar demasiado ativado, ou tenha sensações de dor ou de mal-estar, pode entender ser incapaz de a realizar com sucesso; ao invés, um outro que sinta estar otimamente ativado, sem experiências quaisquer sensações potencialmente prejudiciais a um bom desempenho, tenderá a aumentar as suas expectativas de auto-eficácia relativamente a essa competição.

 

Objetivos de realização

Diversos autores têm definido nos últimos anos que não é possível alcançar uma compreensão dos indivíduos se não se compreenderem os seus objetivos de realização, isto é, o que eles procuram alcançar através desses mesmos comportamentos. O sucesso ou o insucesso são estados psicológicos baseados na interpretação que, os indivíduos efetuam acerca da eficácia dos seus esforços orientados para a realização. Nesse sentido, o que se constitui como sucesso para uns pode significar insucesso para outros.

De um modo geral, em contextos de atividade física e desportiva, os indivíduos parecem definir competência de duas formas diferentes, orientando-se do ponto de vista cognitivo, para a perseguição de dois tipos de principais objetivos de realização:

  • Orientação para o ego – sucesso é um critério normativo (procuram evidenciar a sua capacidade perante as outras pessoas, como por exemplo, obtenção da vitória, realização melhor do que os outros)

A procura da demonstração da sua competência relativamente aos seus pares (maximizando a possibilidade de atribuição de uma elevada competência e minimizando as possibilidades de atribuição de uma reduzida competência a eles próprios), designada como habilidade, performance, ou competitividade.

  • Orientação para a tarefa – sucesso é um critério auto referencial (preocupam-se em melhorar as suas execuções ou aprender novas execuções, a exemplo, melhoria do rendimento pessoal, realização bem sucedida de um gesto técnico, execução completa de uma tarefa)

A procura da demonstração de competência relativamente a si mesmos (quer aumentando os seus conhecimentos, como também, resolvendo determinadas tarefas com sucesso), denominada como mestria. Os indivíduos diferem nas suas tendências para se encontrarem envolvidos para a tarefa ou para o ego, como consequência da socialização. Os relacionamentos com os elementos que optam pela tarefa/ego e criam um clima motivacional manifestamente relacionado com a tarefa/ego, promove essa socialização.

Contudo os envolvimentos para a tarefa/ego não são opostos, existindo uma continuidade. Um indivíduo pode estar fortemente envolvido para a tarefa/ego, assim como esse envolvimento pode ser reduzido na tarefa/ego ou pode ser alto num e baixo noutro.  

O modo como os indivíduos se orientam para os objetivos relacionados para o ego ou com a tarefa num determinado momento é influenciado por diversos fatores:

1.      O desenvolvimento cognitivo dos indivíduos;

A diferenciação entre os conceitos habilidade e esforço, e as suas relações de contingência com os resultados observados, de um modo geral apenas é concluída por volta dos 12/13 anos de idade, condicionando assim o tipo de orientação adotado pelos jovens relativamente às suas atividades. Até lá, os jovens orientam-se fundamentalmente para a tarefa, já que consideram que quando uma pessoa tem sucesso é competente e se esforçou. Apenas com a sua entrada na adolescência começam a possuir a capacidade de discriminar o modo como interatuam os conceitos da habilidade e do esforço, para se orientarem também para o ego.

 

2.      As características disposicionais dos indivíduos, relativamente á propensão que cada um tem para se orientar para o ego e para a tarefa;

Para que os jovens possam avaliar a sua habilidade relativamente aos outros, é necessário que, relativamente a uma determinada situação competitiva, consigam avaliar o seu rendimento, o rendimento do adversário, o resultado ocorrido, e o modo como ambos se esforçaram.

As orientações para o ego e para a tarefa relacionam-se de uma forma ortogonal (não se encontram correlacionadas), o que significa que os indivíduos podem procurar alcançar, de um modo simultaneamente intenso objetivos relacionados com a tarefa e com o ego. Ou seja, a maior ênfase na realização de tarefas e na procura da vitória não são exclusivos de uma ou outra orientação cognitiva, podendo portanto constituir-se ambos como objetivos indivíduos que apresentam níveis elevados quer para uma quer para outra das orientações.

A evidência é que o atleta de alta competição tem as duas orientações altas e ele utiliza uma ou outra de acordo com as situações.

3.      As características dos contextos em que se desenrolam as atividades.

O tipo de objetivos perseguidos pelos indivíduos através dos seus comportamentos não decorre apenas deles próprios (por exemplo, das suas próprias orientações) mas também do clima a que estão sujeitos.

Como é que os objetivos de realização influenciam a performance e a persistência?

  • Na orientação para o ego a perceção de habilidade é muito mais frágil;

 

  • Os diferentes estados de envolvimento na tarefa/ego podem afetar o nosso grau de empenho, a importância dada à atividade., o stress demonstrado na competição.

A realidade social da experiência desportiva depende dos objetivos de orientação dos indivíduos envolvidos.                        

Importante papel para os objetivos de realização na determinação da motivação humana: são percecionadas como teorias pessoais da realização, que condicionam não só a forma como os indivíduos configuram os contextos de realização, mas também o modo como interpretam, avaliam e reagem a feedbacks de realização.

De acordo com os resultados das investigações, os objetivos de realização orientados para o ego se relacionam com comportamentos desadaptados; de referir, ainda que estes resultados parecem ser transculturais.

Aliás pode mesmo considerar-se que a investigação relacionada com os objetivos de realização evoluiu em dois sentidos relativamente distintos:

1.     O das diferenças individuais (o modo como as pessoas divergem umas das outras no que respeita ás orientações preferidas);

 

2.     O das influências situacionais (o modo como a estrutura e as exigências dos contextos em que se desenvolvem as atividades exaltam diferentes orientações cognitivas e, em consequência, promovem diferentes padrões motivacionais).

O que realmente parece constituir-se como importante é o sentido que os indivíduos emprestam às situações e isso depende não só da especificidade das situações, mas também das suas exigências prévias; daí a convergência entre estas duas linhas de investigação.

 

Competência percebida

Capacidade de um organismo interagir eficientemente com o seu meio.

Os indivíduos motivam-se, não apenas pela ação de instintos, mas principalmente devido à procura de se sentirem competentes, através de uma interação com o seu envolvimento, sendo esta perceção de competência, resultante da ação dos sentimentos de eficácia, que os leva a manter ou aumentar a intensidade da sua interação com o meio que os circunda, i.e., do seu empenhamento na realização das tarefas (fazemos coisas que nós pensamos ser mais competentes; sentimos motivados para as coisas em que somos mais competentes).

 

Segundo Harter, quando os indivíduos não conseguem alcançar os objetivos a que se propuseram, podem suceder três situações:

1.     Podem sentir-se ansiosos, reduzindo a sua motivação para a competência em situações similares posteriores.

2.     Podem sentir-se incompetentes ou sem controlo sobre as tarefas em questão, reduzindo igualmente a sua motivação para a competência em situações similares posteriores.

3.      Podem, apesar do insucesso, não reduzir a sua motivação para a competência, em situações similares posteriores, se sentirem que possuem condições suficientes para as realizarem com êxito.

A motivação para a competência varia com os indivíduos: enquanto uns procuram sistematicamente gerir e controlar o seu envolvimento, outros evitam ou, pelo menos, procuram fazê-lo de uma forma muito menos intensa.

 

Avaliação cognitiva

Teoria da autodeterminação: relaciona a necessidade das pessoas se sentirem competentes com a sua necessidade de se sentirem autodeterminadas (sou eu que determino se faço ou não as coisas).

Todos os acontecimentos (atribuição de prémios, quantidade e qualidade de feedbacks recebidos acerca da realização de uma atividade, modo como as situações estão estruturadas) podem exercer um impacto mais ou menos pronunciado na motivação dos indivíduos para uma atividade, a partir do momento em que interfiram com as suas necessidades ou perceções de competência e de autodeterminação; isto é, os pilares em que se apoia a sua motivação intrínseca.

A motivação intrínseca baseia-se na necessidade das pessoas serem competentes e autodeterminadas em relação ao seu envolvimento, de onde resulta que quando as pessoas se sentem mais competentes e autodeterminadas relativamente a uma certa atividade motivar-se-ão mais intrinsecamente para a fazer; quando se sentem menos competentes e autodeterminadas, motivar-se-ão menos intrinsecamente” (As pessoas que se sentem mais competentes e autodeterminadas estão mais motivadas; as pessoas que se sentem menos competentes e autodeterminadas estão menos motivadas).

É possível identificar os dois mecanismos propostos para explicar as alterações ao nível de motivação dos indivíduos:

1.     O locus de causalidade percebido, que se refere à sua perceção acerca da origem dos seus comportamentos (quanto mais interno o locus de causalidade mais intrínseca a motivação)

 

2.   A competência percebida, no que concerne à atividade em causa (quanto mais competente mais intrínseca a motivação).

Cada acontecimento com que os indivíduos são confrontados contém dois aspetos funcionais:

Um controlador: enquanto um acontecimento altamente controlador é aquele que pressiona os indivíduos a agir, pensar ou sentir de uma determinada maneira, um pouco controlador possibilita aos indivíduos a escolha acerca do que fazer, pensar ou sentir (este especto relaciona-se com a autodeterminação dos indivíduos, já que, se um acontecimento evidencia um elevado nível de controlo, os indivíduos vão sentir escassa autodeterminação, um locus de causalidade externo, e sentir que os seus comportamentos são determinados pelo acontecimento e não por eles próprios);

 

Um informativo: a informação pode ser positiva (se promover ou informar acerca da competência dos indivíduos) ou negativa (se originar ou exaltar a sua incompetência).

Com base num exame ao modo como estes aspetos são inerentes aos acontecimentos, é possível identificar três categorias distintas de acontecimentos:

  • Acontecimento controlador

Pressionam os indivíduos para que eles se comportem de uma determinada forma (ex.: “obrigo-te a estudar”)

  • Acontecimento informativo

Proporcionam informação acerca da competência dos indivíduos num contexto de autonomia (o indivíduo decide se faz ou não e o acontecimento informa acerca da sua competência)

  • Acontecimento não contingente ou desmotivante

Não proporcionam quaisquer dados sobre a competência ou autonomia levando-os assim a percecionar os resultados alcançados como independentes dos seus comportamentos (“será que sou eu que determino as coisas?)

O que exerce maior impacto na motivação intrínseca dos indivíduos não são os acontecimentos em si mesmos mas sim a forma como são interpretados pelos indivíduos.

Um indivíduo está intrinsecamente motivado para a prática de uma determinada atividade quando a pratica voluntariamente pelo prazer e satisfação que ela lhe proporciona (o atleta que vai treinar pelo prazer de realizar as tarefas específicas da sua modalidade).

No âmbito da teoria da autodeterminação, comportamentos intrinsecamente motivados são aqueles que são realizados devido ao prazer que lhes está associado em termos de conhecimento, realização e estimulação.

De acordo com a noção do continuum de autodeterminação:

 

Motivação extrínseca: quatro níveis ou estádios de motivação ou regulação dos comportamentos:

 

1.      Externa: é a motivação extrínseca, os comportamentos dos indivíduos são totalmente determinados pela ação de forças externas aos indivíduos (o atleta que vai treinar exclusivamente por causa do dinheiro que o clube lhe paga, ou porque alguém o obriga a fazê-lo);

 

2.     Introjeção: os indivíduos começam a interiorizar as fontes de controlo das suas ações ou comportamentos (apesar de se relacionar com aspetos relativos aos indivíduos, este tipo de motivação não é ainda autodeterminada, já que traduz a interiorização de uma pressão e obrigação para praticar a atividade; o atleta que vai treinar porque se sentiria culpado se faltasse, ou porque pretende que os outros tenham uma boa imagem dele);

 

3.   Identificação: considera-se que os comportamentos de um indivíduo são regulados por identificação quando ele os valoriza e considera importantes, e é livre para escolher realizar ou não uma determinada atividade (mesmo que o objetivo último da realização desta atividade não se circunscreva a ela própria, ela é autodeterminada; e.g., o atleta que, apesar de não lhe apetecer muito, vai treinar porque pretende desenvolver as suas competências, ou aprender novas, e entende que isso é importante para o seu futuro);

 

4.  Integração: entende-se que um indivíduo se encontra neste estádio quando se sente autodeterminado na regulação dos seus comportamentos e essa regulação é consistente com outros aspetos de si mesmo, isto é, se relaciona com a sua personalidade (o atleta que vai treinar porque pretende atingir um alto nível desportivo, a exemplo do que procura fazer noutros contextos da sua vida).

 

Motivação Intrínseca: três tipos de motivação intrínseca

 

1.     Para conhecer: relativo à realização de atividades pelo prazer e satisfação inerentes à aprendizagem, exploração ou aquisição de conhecimentos sobre algo novo (o atleta que tenta descobrir novas competências pelo prazer associado à sua aprendizagem, o atleta que pratica um desporto devido ao prazer que este lhe proporciona, ao possibilitar-lhe a aprendizagem regular de novas coisas);

 

2.    Para realizar coisas: referentes à participação em atividades pelo prazer e satisfação decorrentes da realização ou criação de algo (o atleta que pratica um desporto pela possibilidade que este lhe confere de se ultrapassar a si mesmo; o atleta cuja prática desportiva decorre da satisfação que sente em melhorar as suas competências desportivas);

 

3.  Para experimentar estímulos: respeitante à realização de atividades pelo prazer e satisfação associados à licitação de sensações provocadas por elas (o atleta que participa numa atividade devido ao divertimento que esta lhe provoca; o atleta que pratica um desporto pela sensação de risco e aventura que este envolve).

 

O desporto organizado para crianças  expandiu-se dramaticamente na última década. Números estimativos de crianças envolvidas nos EUA vão até aos 30 milhões em cada ano. Estimativa do número total de crianças envolvidas em todo o mundo vai até aos 200 milhões. Organizações do desporto competitivo têm dirigido muita atenção a experiências de desenvolvimento de desporto de competição para crianças através do leque de idades. Num estado, por exemplo, há “wrestling” para crianças com 4 anos de idade. Muitos atribuem esta expansão ao impacto do desporto televisivo mas a primeira razão para a elevação do desporto competitivo para crianças é a de que se não se introduzem técnicas para as crianças nas idades mais jovens, a criança nunca terá o potencial para se tornar um atleta de elite no futuro. Também é certo que correlacionado com esta ênfase crescente em desportos para crianças, as crianças estão mais inclinadas para participar em versões infantis de atividades desportivas reconhecidas para adultos no seu tempo livre.

 

Como consequência de um aumento em desporto organizado para crianças tem havido um decréscimo no número de crianças que se envolvem nos seus próprios jogos de diversão. Há uma tendência nas crianças, conforme vão avançando na idade, para aumentar o seu compromisso em atividades desportivas organizadas. Embora haja similaridades conceptuais entre os desportos e os jogos modernos que as crianças praticam, eles podem distinguir-se num ponto importante – o nível para o qual os participantes têm controlo sobre o conceito e manutenção da atividade. As crianças quando jogam, geralmente embrenham-se em competição plena onde o resultado é determinado pela capacidade física, estratégia ou oportunidade. Por outro lado, o desporto é a institucionalização do jogo com regras estabelecidas, regulamentos nacionais e uma superestrutura administrativa governativa de adultos.

É verdade que as crianças se podem envolver na atividade de uma forma completa, mas o ponto essencial do desporto está na sua estrutura organizativa que zela pela manutenção e direção da atividade através de regras interpretadas pelos adultos que atual oficialmente. A preocupação das crianças no desporto é a atuação e o resultado mais que a conceção e a manutenção da atividade, que é mais característica de jogos recreativo.

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