Freud

18-06-2009 17:23

 Ideia Principal

 No desenvolvimento humano a infância é determinante, pois o comportamento sexual adulto está relacionado com as vivências infantis. A sexulidade tem um papel essencial na vida psíquica humana, estando relacionada com a obtenção de prazer e não apenas com o acto sexual, exprimindo-se desde o nascimento. 

O desenvolvimento processa-se ao longo de estádios, sendo a passagem de um para outro marcada por uma mudança na fonte de satisfação sexual (ou zonas erógenas). A forma como a criança vive os conflitos que se lhe deparam em cada estádio determinaria a sua personalidade futura. As pessoas que experienciam excesso de frustração ou de satisfação dos sentimentos sexuais de cada período poderão permanecer psicologicamente presas a esse estádio, fenómeno que Freud designa por fixação.

A mente humana é composta por uma parte consciente, uma pré-consciente, e uma inconsctiente que contém as pulsões, as componentes da personalidade, memórias de experiências iniciais e conflitos psicológicos.

 

 Estádios de desenvolvimento

 

Estádio oral (0-1 anos)

 

  • Na fase oral, o prazer sexual, predominantemente relacionado à excitação da cavidade oral e dos lábios
  • O recém-nascido não se sente como uma entidade separada do mundo exterior, só se preocupa com a satisfação das suas necessidades biológicas, que lhe asseguram a sobrevivência quando tem fome ou sede procura a satisfação
  • Quando a necessidade é satisfeita e a pulsão a ela associada reduzida, sente prazer e o organismo volta ao seu estado de equilíbrio
  • Os conflitos orais são expressos através de sintomas como inapetência, vómito, hábito de ranger dentes, inibições da fala
  • Uma estrutura de carácter oral caracteriza-se por traços tais como a ganância, dependência, intolerância, agitação e curiosidade
  • Formação do ego

 

Estádio anal (1-3 anos)

 

  • A retenção ou expulsão das fezes torna-se fonte de prazer, pelo que a região anal é a zona erógena. A higiene e a consequente necessidade de controlo dos esfíncteres mostram que o ego está formado, sendo a criança capaz de diferir a satisfação das pulsões
  • As crianças começam a desenvolver controlo muscular ligado a defecação
  • Os pais começam-se a preocupar com a criação de hábitos de higiene. Se esta preocupação dos pais for demasiado rígida pode vir a condicionar a personalidade da criança, apresentando esta características próprias na fase adulta

 

Estádio fálico (3-5 anos)

 

 

  • Surge a curiosidade pelos órgãos sexuais, a sua manipulação torna-se a fonte de prazer, são a zona erógena
  • Questões do tipo: Como nascem os bebés? começam a intrigar a criança. Brincar aos médicos e aos pais e às mães são os passatempos eleitos nestas idades
  • É nesta fase que as crianças vivem a primeira experiência de amor heterossexual. A sexualidade, até aqui auto-erótica, começa a investir-se nos pais
  • Surge o complexo de Édipo nos rapazes e o complexo de Electra nas raparigas, que se caracterizam essencialmente pela atracçao sexual que a criança sente pelo progenitor do sexo oposto
  • Surge o superego

 

Estádio de latência (5 anos-puberdade)

 

 

  • Diminuição da actividade sexual
  • A criança ao deparar-se com a impossibilidade de tornar efectiva a satisfação das pulsões sexuais, é obrigada a renuncia-las e reprimi-las, sendo a energia sexual canalizada para outras actividades e interesses sociais
  • Em vez da satisfação sexual, busca-se a satisfação pulsional através de elementos socialmente valorizados como a investigação e as actividades lúdicas e artísticas.
  • Inicia-se o período escolar
  • Surgem os sentimentos de vergonha, pudor, nojo, repugnância que são bastante importantes no controlo e retenção da libido
  • A criança vai adquirir uma consciência moral e é aí que o superego se vai manifestar, instalando-se através das proibições paternas e da sociedade na qual a criança se desenvolve.
  • O ego tem mecanismos de defesa que englobam formas inconscientes organizadas pelo sujeito para lutar contra a ansiedade e outras ameaças internamente sentidas, protegendo assim o seu ego de níveis de angústia que lhe seriam intoleráveis. São alguns destes mecanismos: o recalcamento, a regressão, ...

 

Estádio genital (adolescência)

 

 

  • Os impulsos sexuais, reprimidos no estádio de latência, reaparecem com todo o vigor e são dirigidos para o sexo oposto,
  • Aqui a meta é uma sexualidade adulta e madura que tem como objectivo a reprodução, sendo o amor mais altruísta e menos centrado na auto-satisfação       
  • Retomam-se algumas problemáticas do estádio fálico, como o complexo de Édipo, problemáticas essas que resultam de uma diminuição da actividade sexual, que pode ser total ou parcial, durante o período de latência
  • O adolescente poderá fazer escolhas sexuais fora do mundo familiar, tal como adaptar-se a um conjunto de exigências socioculturais.
  • Alguns adolescentes, face às dificuldades deste período, regridem a fases do desenvolvimento anteriores (fundamentalmente resultantes do conflito entre o id e o ego), recorrendo também a mecanismos de defesa do ego como o ascetismo e a intelectualização.
  • Neste estádio, podem ocorrer, também, fixações afectivas que têm como objectivo pessoas da mesma idade

 

 

O modelo da mente

 

A mente é composta por 3 instâncias:

  • O id, que age sob o princípio do prazer, contém os instintos e impulsos
  • O ego, que age sob o princípio da realidade, é controlado e lógico tentando conciliar as necessidades do id e as restrições do superego
  • O superego, que tem um papel de censura, é uma instância moral que luta pela perfeição, idealismo, auto-sacrifício e heroísmo

 

Com o auxílio de uma narrativa é possível abordar a teoria do desenvolvimento psicossexual de Sigmund Freud. É meu fito esclarecer o conceito freudiano de sexualidade; explicar a relação dinâmica existente entre as instâncias do aparelho psíquico; caracterizar os estádios de desenvolvimento psicossexual propostos por Freud e identificar os conflitos inerentes a diferentes estádios.

 

 Freud foi um gigante intelectual , cujas ideias influenciaram profundamente muitos aspectos da nossa cultura.

 

A sexualidade é Fundamental

 

 

    A primeira descoberta a que a psicanálise nos conduz consiste em mostrar que os sintomas mórbidos estão em conexão com a vida amorosa do doente; revela-nos que os desejos patológicos são da natureza dos componentes eróticos e obriga-nos a encarar as perturbações da vida sexual como uma das causas mais importantes da doença.

 Sei que não se aceita, de boa vontade, esta opinião. Mesmo os cientistas que se interessaram pelos meus trabalhos de psicologia inclinam-se a crer que eu exagero a parte etiológica do factor sexual. Dizem-me: «Porque é que outras superexcitações mentais não provocam também fenómenos de recalcamento e de substituição?» Respondo-lhes que isso não nega a minha doutrina e que não me oponho à sua opinião. No entanto, a experiência prova que as tendências de origem não sexual não desempenham tal papel. Podem ás vezes reforçar a acção dos factores sexuais, mas não os substituem nunca. Não afirmo, com isto, um postulado teórico.

 Quando em 1895 publiquei com o doutor J. Breuer os nossos Estudos sobre a Histeria, não professava ainda esta opinião. Converti-me a ela depois de experiências numerosas e concludentes. Os meus amigos e os meus partidários mais fiéis começaram por se mostrar perfeitamente incrédulos a este respeito, até que as suas próprias experiências analíticas os convenceram. A atitude dos doentes não permite demonstrar a justeza da minha proposição. Em vez de nos ajudar a compreender a sua vida sexual, procuram, pelo contrário, escondê-la por todos os meios. Os homens, em geral, não são sinceros neste domínio […].

 O trabalho analítico necessário para explicar e para suprimir uma doença não pára nunca nos acontecimentos da época em que essa doença se produziu, mas remonta sempre à puberdade e à primeira infância do doente: é aí que se encontram os acontecimentos e as impressões que determinaram a doença posterior. È descobrindo acontecimentos da infância que pode explicar-se a sensibilidade a respeito de traumas posteriores e é tornando conscientes estas recordações, geralmente esquecidas, que adquirimos o poder de suprimir os sintomas. Chegamos aqui às mesmas conclusões que no estudo dos sonhos; foram os desejos fatais e recalcados da infância que levaram à formação dos sintomas sem os quais teria sido normal a reacção aos traumas posteriores. Estes poderosos desejos da infância considero-os, de um modo geral, como sexuais […].

 Há então, perguntareis, uma sexualidade infantil? Não é a infância o período da vida em que falta todo o instinto desta espécie? A esta questão respondo com um não decisivo. Não, o instinto sexual não penetra nas crianças na época da puberdade, tal como, no Evangelho, o Diabo entra nos porcos. A criança apresenta, desde a mais tenra idade, manifestações deste instinto.

(S. Freud – Cinco Lições sobre a Psicanálise – Payot)

 

    

 Após a leitura deste excerto deveremos chegar às seguintes conclusões fundamentais:

 

    A infância é determinante para o desenvolvimento da personalidade, pois o comportamento sexual adulto está relacionado com as vivências infantis. “A criança é o pai do Homem”.

    A sexualidade tem um papel essencial na vida psíquica humana. Existência de uma sexualidade infantil. A sexualidade exprime-se desde o nascimento, não se inicia apenas com o funcionamento das glândulas sexuais na puberdade.

    É necessário estabelecer uma nítida diferença entre os conceitos “sexual” e “genital”. O primeiro é um conceito mais amplo e engloba muitas actividades que podem não ter qualquer relação com os órgãos genitais.

A vida sexual abrange a função de obter prazer em zonas do corpo, uma função que posteriormente é posta ao serviço da procriação, mas que frequentemente as duas funções não chegam a coincidir na íntegra.

 

  

Estádio Oral (0 – 1 ano)

 

            Na fase oral, o prazer sexual, predominantemente relacionado à excitação da cavidade oral e dos lábios, está associado à alimentação.

            O recém-nascido não se sente como uma entidade separada do mundo exterior, só se preocupa com a satisfação das suas necessidades biológicas, que lhe asseguram a sobrevivência quando tem fome ou sede procura a satisfação. Quando a necessidade é satisfeita e a pulsão a ela associada reduzida, sente prazer e o organismo volta ao seu estado de equilíbrio. Neste sentido, a procura do prazer é o princípio básico da existência. Se a satisfação da necessidade não é imediata, e tem que esperar pelo alimento começa a sentir-se como separado do meio e dá-se o início da formação do Ego, o que acontece durante o primeiro ano de vida.            

            Quanto à oralidade, durante os primeiros dezoito meses de vida, a pulsão caracteriza-se por: fonte=zona oral, alvo=incorporação, objecto=aquele da ingestão do alimento.

            A relação de objecto é organizada em torno da nutrição e colorida por fantasias que adquirem os significados de comer e ser comido (impulsos canibalescos). Portanto, a ênfase recai sobre uma zona erógena (oral) e uma modalidade de relação (incorporação).

            Karl Abraham sugeriu a fase sádico-oral como uma subdivisão da fase oral, de acordo com as seguintes actividades:

 

    Sucção – Fase oral precoce de sucção pré-ambivalente.

 

    Mordedura – fase sádico-oral ocorre simultaneamente aquando da dentição, quando a incorporação adquire o significado de destruição do objecto devido à coexistência de libido e agressividade, em relação ao mesmo objecto. Mastigar, morder e cuspir são expressões dessa necessidade agressiva inicial, à qual mais tarde pode desempenhar papel relevante nas depressões, adições e perversões.

 

            Os conflitos orais são expressos através de sintomas como inapetência, vómito, hábito de ranger dentes, inibições da fala.

            Uma estrutura de carácter oral caracteriza-se por traços tais como a ganância, dependência, intolerância, agitação e curiosidade.

            A vivência de satisfação, postulada por Freud como a imagem do objecto externo satisfatório (capaz de dar um fim à tensões internas da fome), é responsável pela construção do desejo do sujeito e pela contínua busca do objecto que consiga repetir esta experiência primordial.

 

 Desejo e prazer localizam-se primordialmente na boca, na ingestão de alimentos e no seio materno. O biberão, a chupeta e os dedos são objectos de prazer.

 

 

Estádio Anal (1 – 3 anos)

 

 

            Durante esta fase as crianças começam a desenvolver controlo muscular ligado a defecação, é também nesta altura que os pais se começam a preocupar com a criação de hábitos de higiene. Se esta preocupação dos pais for demasiado rígida pode vir a condicionar a personalidade da criança, apresentando esta características próprias na fase adulta.

             Nesta fase, a retenção ou expulsão das fezes torna-se fonte de prazer, pelo que a região anal é a zona erógena. A higiene e a consequente necessidade de controlo dos esfíncteres mostram que o ego está formado, sendo a criança capaz de diferir a satisfação das pulsões. 

  

Desejo e prazer localizam-se primordialmente na região anal. Brincar com massas e tintas, amassar barro ou argila, comer coisas cremosas e sujar-se são os objectos do prazer.

 

Estádio Fálico (3 – 5 anos)

 

            Manifesta-se, sobretudo, nestas idades a curiosidade pelos órgãos sexuais. A criança obtém prazer ao tocar-lhes sendo comum a sua manipulação. Questões do tipo: Como nascem os bebés? começam a intrigar a criança. Brincar aos médicos e aos pais e às mães são os passatempos eleitos nestas idades. É nesta fase que as crianças vivem a primeira experiência de amor heterossexual. A sexualidade, até aqui auto-erótica, começa a investir-se nos pais.

 

Complexo de Édipo

 

            É vulgar ouvir os meninos dizer que a sua namorada é a mãe e quando forem crescidos querem casar com ela. Segundo Freud, os desejos libidinosos do filho para com a mãe, são totalmente inconscientes. Embora eles influenciem o seu comportamento, não é ciente deles. À medida que o seu desejo se sente mais forte, a criança entra inconscientemente em competição com o pai. É a conjugação destes dois sentimentos (amor/rivalidade) que fazem com que surja no rapaz o desejo de imitar o pai, de ser como ele, para conquistar a mãe.

            Isto origina outro complexo – o complexo da castração – em que o rapaz teme que o pai se vingue, mutilando-o, particularmente amputando-lhe os órgãos genitais. O que aqui nos parece negativo e de certo modo chocante é, pelo contrário, positivo e basilar para a estruturação da personalidade. 

 

Desejo incestuoso do rapaz pela mãe e rivalidade com o pai. Termina quando a criança se identifica com o parente do mesmo sexo.

 

 Complexo de Electra

 

            O desenvolvimento da personalidade da rapariga segue as mesmas directrizes. A rapariga sente-se atraída pelo pai. Uma importante diferença é que a rapariga esteve desde sempre muito ligada à mãe e, nesta idade, vai investir e seduzir o pai. É mais difícil rivalizar com a mãe porque receia perder o seu amor. As meninas sentem aquilo a que Freud chamou inveja do pénis, ou pura e simplesmente dão-se conta de que o não têm, culpam a mãe por as terem posto no mundo incompletas. Sentem-se castradas já à nascença. Porém, a resolução deste complexo não chega a um desfecho abrupto, mediante um medo intenso como nos meninos. É resolvido lentamente, e quando o desfecho é feliz, a rapariga identifica-se com a mãe e sublima (torna socialmente aceitáveis) os seus sentimentos pelo pai

 

 A reacção contra os complexos de Édipo e Electra é a mais importante conquista social da mente humana.

 

 No entanto, quando os complexos não são bem resolvidos, quer por as fantasias sexuais infantis são satisfeitas quer por defeito, quer por excesso, pode ocorrer uma fixação nesta fase da qual resultam dimensões bipolares de personalidade: orgulho-humildade, sedução-retraimento, promiscuidade-castidade.

 A entrada na escola e a identificação com crianças do mesmo sexo ajudam na resolução destes conflitos intra pessoais.

 

A terceira instância do aparelho psíquico, o Superego, vai agora ser constituída. A sua origem radica na relação da criança com os pais. Estes são fontes de exigências, sanções, interdições e ameaças que pesam sobre a criança.

  

 

Estádio Latência (5 anos – puberdade)

 

            Após a vivência do complexo de Édipo e com um superego já formado, a criança entra numa fase de latência que é caracterizada por uma diminuição da actividade sexual. Esta etapa começa por volta dos 5 anos e estende-se até à puberdade.

            A criança ao deparar-se com a impossibilidade de tornar efectiva a satisfação das pulsões sexuais, é obrigada a renuncia-las e a voltar-se para objectos que não pertencem à sua estrutura familiar primária. As pulsões sexuais são reprimidas e a energia sexual é canalizada para outras actividades e interesses sociais. Em vez da satisfação sexual, busca-se a satisfação pulsional através de elementos socialmente valorizados como a investigação e as actividades lúdicas e artísticas. É neste período que o indivíduo se relaciona com os professores e colegas, dando-se, assim, o início da escolaridade e do aprendizado das operações matemáticas e gramaticais.

            A vergonha, o pudor, o nojo, a repugnância são sentimentos característicos desta fase e vão ser bastante importantes no controlo e retenção da libido. A criança vai adquirir uma consciência moral e é aí que o superego se vai manifestar, instalando-se através das proibições paternas e da sociedade na qual a criança se desenvolve.

            O ego tem mecanismos de defesa que englobam formas inconscientes organizadas pelo sujeito para lutar contra a ansiedade e outras ameaças internamente sentidas, protegendo assim o seu ego de níveis de angústia que lhe seriam intoleráveis. São alguns destes mecanismos: o recalcamento, a regressão, a intelectualização, a denegação (negação), a sublimação e a formação reactiva.

            Ainda que este período constitua uma pausa na evolução da sexualidade, este facto não significa necessariamente que a criança não tenha nenhum interesse sexual até chegar à puberdade, simplesmente, neste período não se desenvolverá uma nova organização da sexualidade.

 

Estádio Genital (Adolescência)

   

Para Freud e para os psicanalistas, a adolescência reactiva uma sexualidade que esteve como que adormecida durante o período de latência, isto é, os impulsos sexuais, reprimidos neste estádio, reaparecem com todo o vigor e são dirigidos para o sexo oposto, visto que no estádio genital, que ocorre durante e depois da puberdade, o rapaz e a rapariga já são conscientes das suas identidades sexuais.       Aqui a meta é uma sexualidade adulta e madura que tem como objectivo a reprodução, sendo o amor mais altruísta e menos centrado na auto-satisfação.           Deste modo, o mundo relacional do adolescente é alargado a pessoas exteriores à família.

            No estádio genital, retomam-se algumas problemáticas do estádio fálico, como o complexo de Édipo, problemáticas essas que resultam de uma diminuição da actividade sexual, que pode ser total ou parcial, durante o período de latência.

            Assim, o adolescente vai reactivar o complexo de Édipo e a sua liquidação está ligada a um processo de autonomização dos adolescentes em relação aos pais idealizados, como eram sentidos na infância. O adolescente poderá fazer escolhas sexuais fora do mundo familiar, tal como adaptar-se a um conjunto de exigências socioculturais.

            Alguns adolescentes, face às dificuldades deste período, regridem a fases do desenvolvimento anteriores (fundamentalmente resultantes do conflito entre o id e o ego), recorrendo também a mecanismos de defesa do ego como o ascetismo e a intelectualização. Através do ascetismo, o adolescente nega o prazer, procura ter um controlo das pulsões através de uma rigorosa disciplina e de isolamento. Pela intelectualização ou racionalização, o jovem procura esconder os aspectos emocionais do processo adolescente, e passa a interessar-se por actividades do pensamento, colocando aí toda a sua energia.

            Por se tratar de uma fase tão conturbada na vida do jovem, é essencial o acompanhamento e uma maior aproximação por parte dos pais e amigos, e por vezes de profissionais da área da psicologia clínica.

            Neste estádio, podem ocorrer, também, fixações afectivas que têm como objectivo pessoas da mesma idade (nos quais reconhecem conflitos semelhantes aos seus) ou adultos que admiram.

 

Instâncias do aparelho psíquico: ID, EGO E SUPEREGO

 

            Segundo Freud, o nosso aparelho psíquico, ou estrutura da personalidade, é formado por três componentes ou sistemas motivacionais, também designados por instâncias do eu ou instâncias de personalidade: id, ego e superego.

 

            Depois de ter recolhido numerosos dados acerca dos conflitos interiores dos pacientes e sobre o significado profundo das desordens mentais, Freud iniciou a tarefa da sua ordenação numa visão mais coerente. Em 1923 propõe um novo esquema que precisa os elementos da personalidade. A nova visão inclui uma «Tríade dramática» que podemos apresentar deste modo: o complexo dos instintos e dos conteúdos removidos; os elementos preconscientes e conscientes; os factores responsáveis por essa remoção. Ou ainda, para usar a terminologia freudiana: Id (o abismo afectivo, «aquilo que existe de mais impessoal e de mais estreitamente sujeito às necessidades materiais do nosso ser»); Ego (uma parte do Id que se diferenciou sob a influência directa do mundo exterior e através dos processos perceptivos); Super-Ego ou Ego Ideal, que luta contra os impulsos do inconsciente e que de algum modo representa a exigência ética da personalidade.

             «O ego esforça-se por estender ao id e às suas intenções a influência do mundo exterior, de substituir o princípio da realidade ao princípio do prazer que se afirma plenamente no segundo: a percepção acha-se para o ego numa relação semelhante àquela que aproxima o instinto ou impulso instintivo e o id. O ego representa aquilo que designamos por razão e sabedoria; o id, inversamente, é dominado pelas paixões.»

            O núcleo do ego é definido com clareza suficiente pelo sistema consciência-percepção-adapção à realidade, enquanto o id é o grande «viveiro» do libido, o reino das tendências orientadas para a afirmação violenta.

            Verificámos que o Ego não se encontra em luta permanente apenas com o Id, mas que isso se passava igualmente na sua articulação com o Super-Ego. Este é uma personagem estranha que realiza a primeira e mais importante identificação tentada pelo indivíduo – a identificação com os progenitores.

            Falando do complexo de Édipo constatamos que a criança se identifica com o pai através do desejo de o substituir junto da mãe e da admiração das virtudes paternas – o famoso processo da ambivalência. Se o Super-Ego controla e inibe o dinamismo do Eu, é porque concentra de certo modo todos os receios de punição que a criança suporta na primeira infância. «Desde pequenos conhecemos estes seres superiores que para nós foram os pais; admirámo-los, tememo-los e, mais tarde assimilámo-los e integrámo-los em nós próprios.»

            Por isso Freud fala do duplo aspecto do Super-Ego; por um lado, o esforço de eliminação do complexo de Édipo, por outro, o seu aparecimento, que é justamente condicionado por esse feito formidável. A concepção será convincente se dissermos que o Super-Ego se impõe ao Eu como a encarnação dos escrúpulos da consciência e porventura de um sentido de culpa inconsciente.

 

(António Miotto – A Psicanálise – Ed. Arcádia – trd. De Vasco de Sousa – pp. 73 -75)

 

Após a leitura deste excerto chegamos às seguintes conclusões fundamentais:

 

Id/Infra-Ego/infra-Eu

 

·        É o primeiro elemento. Nasce com a criança. O seu conteúdo é constituído por toda a herança biológica do indivíduo, enquanto fonte da motivação e do prazer.

·        É a fonte de toda a energia psíquica. É inconsciente e visa a satisfação imediata na busca exclusiva do prazer tendo assim a função de descarregar as tensões biológicas.

·        A vida em sociedade seria impossível: é amoral.

·        A busca narcísica e egocêntrica do prazer levaria a constantes frustrações e conflitos no mundo real.

 

Ego/Eu

 

·        Orienta as pulsões de acordo com as exigências da realidade.

·        Controla as exigências instintivas do Id, decidindo onde, quando e como são feitas. Tem o papel de árbitro na luta entre as pulsões inatas e o meio. É a parte racional da alma.

·        É pressionado pelos desejos insaciáveis do Id, a severidade repressiva do Superego e os perigos do mundo exterior. Se se submete ao Id, torna-se amoral e destrutivo; se se submete ao Superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável; se não se submeter à realidade do mundo, será destruído por ele. Por esse motivo, a forma fundamental da existência para o Ego é a angústia existencial. Tem a dupla função de, ao mesmo tempo, recalcar o Id, satisfazendo o Superego, e satisfazer o Id, limitando o poderio do Superego. Nos neuróticos o Ego sucumbe, seja porque o Id ou o Superego são excessivamente fortes, seja porque o Ego é excessivamente fraco.

 

Superego/Supereu/ Censura

 

·      Autoridade do grupo social. Consciência moral que se liga a culpabilidade e a autocrítica.

·      Representa um conjunto de valores nucleares como: honestidade, sentido de dever, obrigações, sentido de responsabilidade e outros.

·      Também inconsciente faz a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura proíbem ao Id, impedindo o indivíduo de satisfazer plenamente seus instintos e desejos.

·      Repreende. Manifesta-se à consciência de forma indirecta.

·      Produção da imagem “Eu ideal”, isto é, da pessoa hipermoral, boa e virtuosa.

 

 A constituição e a manifestação do Superego não eliminam a actuação do Id, que se mantém activo ao longo da vida. Toda a teoria freudiana se desenvolve à roda do conceito de energia psicossexual ou libido, cuja proveniência são as pulsões biológicas e instintivas do Id.

 

Estas três instâncias raramente estão em equilíbrio. Pelo contrário, existem desafios constantes entre o Id e o Superego para tomarem o controlo. O processo de resolução constante destes conflitos é o motor das mudanças desenvolvimentais, a que Freud chamou o desenvolvimento do Ego. Os padrões de comportamento resultantes deste processo constituem a personalidade.

 

Freud foi um Neurologista austríaco, nasceu em Freiberg, Morávia (actual República Checa), em 1856 e morreu em Londres em 1939. Freud fundou a Psicanálise e esta teoria teve um grande efeito na psicologia e na psiquiatria.    Publicou, em colaboração com Josef Breuer, Estudos sobre a Histeria (1895); obra que contém a apresentação pioneira do método psicanalítico da livre associação. Desenvolveu teorias que dizem respeito a uma camada profunda da nossa mente: o inconsciente e a forma como este influencia as acções dos homens.             As principais obras de Freud são: A Interpretação dos Sonhos (1899), Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905), O Inconsciente (1915), Introdução à Psicanálise (1916-1917), Psicologia das Massas e Análise do Ego (1923), Psicanálise e Teoria da Libido (1923), Neurose e Psicose (1924). No livro A interpretação dos Sonhos, Freud analisa a grande complexidade simbólica subjacente à formação dos sonhos. Em 1905 aparece o seu estudo mais controverso, no qual Freud apresenta a teoria que afirma que a repressão da sexualidade infantil está na origem de neuroses em adulto (de que o complexo de Édipo é um exemplo). Formulou os conceitos de «id», «ego» e «superego». As suas teorias levaram a uma maior aproximação ao tema da sexualidade. A partir dele, os comportamentos anti-sociais são compreendidos como um resultado, em muitos casos, de forças inconscientes.

A Universidade de Oregon nos Estados Unidos pretendeu desenvolver estudos com base na teoria de Freud, que assenta no facto de as pessoas estarem aptas a esquecer certas palavras, pensamentos ou acontecimentos negativos.
            O estudo demonstrou, segundo o seu co-autor Michael C. Andersen, “claras evidências” que as pessoas podem suprimir da sua memória o que quiserem, principalmente as situações mais negativas. “Ainda não sabemos como aplicar esta teoria ao lado emocional e prático das experiências pessoais”, refere o mesmo. Contudo, os autores do estudo advertem que os resultados nada têm que ver com outras implicações clínicas, já que o desenvolvimento destes estudos apenas podem conduzir a conclusões sobre certas experiências passadas.

 Aqui que ninguém nos ouve, sou um belo exemplar da minha raça. Não fosse esta triste história do Abílio, e poderia mesmo considerar-me perfeito. Todos querem fazer-me acreditar que, na escolha do meu nome, estão todos inocentes, todos inocentinhos.

            Pois é: os pais são bichos curiosos.

 (passados 20 anos…)

  Agora sou eu o bicho curioso. Relembro com saudade as minhas histórias de puto. Pergunto-me se as suas dificuldades serão as mesmas que as minhas. Bem sei que terá necessidade de conhecer o mundo através da boca, tal como eu tive. Fico ansioso para o ver gatinhar, andar, correr e até saltar. A velha pergunta sobre a descoberta de nós próprios e que eu também fizera um dia ao meu pai não vai tardar em aparecer.          Arde-me a cabeça só de pensar que alguma coisa fique por explicar. A escola, o seu primeiro beijo, a procura da sua verdade, a estimulação das suas capacidades vão surgir num ápice.

            O que lhe vou contar acerca da sexualidade? 

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