Coesão e Dinâmica de Grupos

16-04-2013 11:35

O contexto desportivo constitui um ambiente importante para o estudo da dinâmica dos grupos. Depois da família, uma equipa desportiva poderá ser o grupo mais influente a que determinados indivíduos pertencem. Possui características estruturais únicas que oferecem vantagens, apresentando-se como um contexto ideal para o estudo das interações sociais.

Na sua essência um treinador tem de lidar com um grupo de atletas que formam uma equipa, onde todos os indivíduos procuram atingir em conjunto objetivos comuns e onde o todo não é necessariamente igual à soma das partes. Nesta relação treinador-atletas, as interações/comunicações que se estabelecem devem possuir uma base comum de compreensão, estando na origem e/ou resolução de conflitos e problemas interpessoais num grupo desportivo e tendo necessariamente impacto no seu rendimento. A dinâmica de grupos desempenha um papel importante na obtenção de resultados em competição: o rendimento de uma equipa não se limita à simples soma dos rendimentos individuais.

Em contextos desportivos é atribuída relevância a 3 elementos sempre presentes:

  • Os atletas enquanto membros do grupo e da equipa desportiva, considerada como um todo 

 

  • O papel do treinador, assumido enquanto líder, nas interações com os seus atletas

 

  • O sucesso do rendimento desportivo, que constitui o objetivo último da generalidade dos desportos de competição e de todos os agentes envolvidos na sua prática

DINÂMICA DE GRUPOS EM CONTEXTOS DESPORTIVOS

Campo dedicado ao progresso do conhecimento acerca da natureza dos grupos, das leis do seu desenvolvimento e suas inter-relações com os indivíduos, outros grupos e instituições de maior dimensão.

O termo “dinâmica de grupo” é utilizado de duas formas:

 

  • Descrever a vitalidade e natureza da mudança dos grupos;

 

  • Campo de estudo que centra a sua atenção no comportamento dos grupos.

 

É fundamental definir o conceito de grupo ou equipa desportiva, dado que não se pode adotar a definição de grupo geralmente utilizada e transferi-la para o contexto desportivo.

Noção de equipa desportiva: conjunto de indivíduos que:

 

  • Possuem identidade coletiva

  • Têm metas e objetivos comuns

  • Partilham um destino comum

  • Desenvolvem padrões de interação e modos de comunicação estruturados

  • Exibem interdependência pessoal e de tarefa

  • Se consideram um grupo

 

O RENDIMENTO COLECTIVO NO DESPORTO

Os treinadores e técnicos dedicam o máximo de esforço e trabalho para maximizar e otimizar o rendimento coletivo de um grupo.

Os desportos que exijam elevados níveis de interação e cooperação entre os membros da equipa (desportos coletivos) são muito mais vulneráveis e suscetíveis à ocorrência de perdas ou falta de coordenação, comparativamente aos desportos Individuais. Uma boa parte da explicação para as causas das perdas referidas pode ser encontrado do “Efeito Ringelmann”: um fenómeno através do qual o rendimento individual diminui à medida que aumenta o número de pessoas no grupo. O rendimento médio individual diminui devido a perdas motivacionais, quando aumenta o tamanho dos grupos.

Outro fenómeno “social loafing”, os membros de uma equipa não dão o seu máximo de esforço devido a falhas ou razões de ordem motivacional. Quando os membros de um grupo acreditam que os seus esforços são identificados e reconhecidos pelos outros, este fenómeno diminui.

Pelo contrário, quando os elementos do grupo acreditam ou sentem que o seu esforço se “perde” ou “não se percebe no meio dos outros” têm tendência para não dar o seu máximo e para terem um rendimento menor. 

RELAÇÃO COESÃO – RENDIMENTO:

Vários estudos apontam para a ideia de que elevada coesão está associada a um elevado rendimento da equipa. Parece plausível que tanto uma elevada coesão possa conduzir ao sucesso do rendimento, como um elevado rendimento possa conduzir a um aumento da coesão (poucos estudos deram resposta a isto). Não está bem provado mas poder-se-á dizer que o resultado do rendimento afeta a coesão futura da equipa, mas é menos claro saber até que ponto a coesão da equipa influencia o rendimento futuro.

O tipo de liderança interfere na coesão.

A COESÃO É VITAL NA VIDA DE UM GRUPO pelas seguintes  RAZÕES:

  • Os grupos não existem sem coesão
  • Está relacionada com processos de grupo: a comunicação, o rendimento no desempenho de papéis, a satisfação ou o rendimento desportivo
  • Fundamental para que a experiência desportiva gere satisfação e divertimento nos atletas
  • Sem coesão dificilmente ocorrerá sucesso

Por isso torna-se necessário implementar procedimentos e estratégias que contribuam para a promoção e desenvolvimento da coesão social e coesão na tarefa em equipas desportivas. Um dos elementos fundamentais para compreender as diferenças entre equipas ganhadoras e menos sucedidas foi não só a coesão social as também a integração na tarefa, o que significa que uma equipa de constrói dentro e fora do “terreno de jogo”. O atleta de alto nível consegue “separar as águas”. Muitos atletas dão-se mal fora do campo mas dentro jogam juntos para ganhar.

 

Neste módulo adquiriu-se competências e aprendizagens no que concerne à coesão de grupos bem como à dinâmica inerente aos mesmos. Pretendeu-se “acelerar” o processo de conhecimento de todos os elementos da turma, como de um “quebra gelo” se tratasse.

As aulas em questão foram suportadas por sessões dinâmicas que passarei a enumera-las por ordem de realização no respetivo módulo de Dinâmica de Grupos do mestrado de Gestão do Desporto, onde se pretendeu atingir alguns objetivos.

 

Aula ministrada pelo professor Nuno Corte-Real

Sessão Dinâmica de Grupo (clube/empresa)

Com uma sessão de trabalho com estas características pretendem-se atingir vários objetivos, nomeadamente:

  • Promover a comunicação, o conhecimento inter-pessoal e a melhoria das relações numa equipa/grupo de trabalho.

 

  • Envolver os atletas/funcionários numa reflexão acerca de si e da equipa/empresa, identificando pontos fortes e pontos a melhorar, definindo objetivos e respetivas estratégias para a intervenção.
  •  

1.  Atividade “Praça Pública”…  “à procura de afinidades”

O professor através do data show projetou um slide onde constava a seguinte frase “encontra nesta sala colegas que tenham algumas afinidades contigo. Escreve os nomes à frente de cada item…”

  • 1. Que tenha a mesma cor de olhos.
  • 2. Que goste do mesmo clube de futebol.
  • 3. Que tenha o mesmo tamanho de mão.
  • 4. Que tenha o mesmo passatempo favorito.
  • 5. Que tenha gostado do mesmo filme.
  • 6. Que tenha gostado do mesmo livro.
  • 7. Que tenha o mesmo medo…
  • 8. Que tenha o mesmo sonho…

Ao fim de 15 minutos quando a maioria dos membros da turma já conversou com os colegas acerca das questões colocadas no slide, parou-se a atividade e pediu-se para cada um salientar alguns aspetos que lhe tinham parecido mais interessantes.

A ideia foi esta “digam o que descobriram nesta atividade que ainda não sabiam sobre os colegas”

 

2. Atividade  “Conhecer os nomes…”

Para conhecermos os outros poderemos começar por conhecer os seus nomes, havendo um conjunto enorme de dinâmicas que podemos utilizar com este objetivo, sendo que o principal objetivo será que ocorra um bom diálogo e que falem e interajam uns com os outros.

  •  Os alunos da turma colocaram-se numa roda de cadeiras e começamos um a dizer o nome e qual o seu passatempo favorito; a seguir o colega que estava ao lado repetiu o que o colega disse e depois disse o seu nome e o seu passatempo favorito; e assim sucessivamente… cada um antes de dizer o seu nome e passatempo repetiu o que os outros disseram (prolongou-se mais ou menos esta atividade por 15 colegas),ao fim de 15 repetições, cortou-se a corrente e iniciou-se outra mudando o passatempo para o local preferido, uma palavra começada pela mesma inicial do nome e que tinha a ver com cada um.

 

  • Numa folha escreveu-se o nome na vertical e depois para cada letra do nome encontramos palavras que tenham a ver com eles… a seguir cada um contou ao grupo as palavras que escolheu, explicando o porquê da escolha: Exemplo aplicado ao meu nome, citado na aula (Marco)

 

  • Revolucionário/Amigo/perfecionista/Criativo/Corajoso/ Simpático

 

A terceira tarefa foi fazer um “Emblema”

Numa folha A4 em branco, o professor pediu que cada um fizesse o seu emblema. Pediu que cada um se imagine como se fosse um emblema de clube: escolher uma figura geométrica, a desenhar na folha e colocar no interior algumas das preferências e características;

  • Lema ou frase forte (que tenha a ver consigo)

 

  • Gostos (cor, animal, local, ídolo, comida)

 

  • Característica positiva e negativa (enquanto pessoa e professor/treinador/jogador/gestor)

Primeiro fizemos o emblema individualmente, depois fizemos em grupos de quatro elementos e partilhamos os emblemas entre os grupos constituídos. A tarefa decorreu durante 20 minutos onde a parte mais demorosa foi pintar o nosso emblema e também tivemos que “fazer” uma votação no seio do grupo para a escolha das cores do respetivo emblema.

 

4.  “Salada de frutas”

O professor adaptou o jogo das cadeiras, em círculo, “dando” um fruto a cada colega (laranja, limão, morango e Kiwi) e o objetivo consistia na procura de outra cadeira quando o fruto ligado ao colega fosse chamado. É um processo que se pretende que seja ativo e baralhou a forma como os colegas se encontravam sentados no círculo.

Depois conversamos dois a dois. Tema: 1 – Revelamos ao colega que ficou sentado ao nosso lado algo de si/da sua vida que o outro ainda não conhecia e que não se importasse que depois todos soubessem; 2 – Falamos sobre a uma equipa/empresa, ou seja, uma organização, identificando aspetos que consideramos positivos e aspetos que achamos que poderiam ser melhorados.

No fim, fez-se uma síntese sobre os aspetos positivos e os aspetos a melhorar nas equipas/empresas.

 

5.  “Trabalho de Grupo”

Fizemos grupos de 4 elementos com os frutos da atividade anterior. Quem tivesse os olhos mais claros (o objetivo era o “olhar as pessoas nos olhos”) é que registava as ideias que fossem faladas no grupo. Havia algumas regras, tais como, Relembrava-se as características dos trabalhos de grupo e todas as vozes tinham de ser ouvidas; só falava um de cada vez; quando um falava os outros ouviam; alguém tinha de registar o que se ia dizendo ou referindo; no fim fazia-se uma síntese, a qual, foi apresentada a todos e no meu grupo consistiu na criação de uma escola de skate com toda uma organização anual de atividades e que mostraram a rentabilidade económica e financeira da mesma. 

A última atividade, consistiu num circuito no pavilhão de ginástica rítmica, no qual, se encontravam espalhadas quatro atividades. A tarefa de cada equipa foi passar por todas as atividades mudando de atividade quando ouvissem o sinal.  Em cada atividade, ficou um coordenador (eu fiquei na atividade 1) que tinha como função atribuir uma pontuação entre 1 para a(s) equipa(s) vencedora(s) da atividade e 4 para a(s) equipa(s) que ficasse(m) em último lugar na atividade. A classificação final foi determinada pela pontuação obtida (a soma de todas as atividades), vencendo a equipa que obtivesse a menor pontuação.

Objetivos:

  • Trabalhar em equipa e boa comunicação

 

  • Decisão do capitão de equipa e do nome a atribui à equipa

 

  • Criação de um “grito de guerra” para identificar a equipa

 

Em cada atividade um dos elementos da equipa foi o “invisual”, em que colocou uma venda, e outro foi o mudo, não podendo, portanto, falar. As atividades foram as seguintes:  

1 – Desporto

2 – Grupo-Equipa

3 – “Bombas”

4 – “Comboio Cego”

1. Desporto: Terão de organizar uma atividade desportiva que envolva todos.

2.Grupo-Equipa: Nesta estação ter-se-ia que definir equipa e grupo e debater quais seriam as principais diferenças.

3. “As bombas”

 Em 5 minutos cronometrados, os participantes estavam de pé, atrás de uma zona onde não podiam entrar… na circunstância um círculo. Dentro do círculo estava uma garrafa de plástico, cheia de água e fechada com uma tampa. Fora do círculo estava outra garrafa de plástico, sem água, sem tampa e apenas tinha lá dentro um pequeno pedaço de madeira. Fora do círculo estava ainda um fio comprido e outras coisas “para distrair” tais como paus, canetas, etc.

4.“Comboio Cego”

 Faz-se um comboio e só o elemento que estava atrás é que não tinha venda. Quando começamos a fazer o percurso esse elemento via mas não podia falar… os outros não viam mas podem falar, teríamos por isso de combinar como vão comunicar. O percurso foi adaptado ao espaço onde estávamos, havendo uns zig-zags, subir uma plataforma, passar por determinados espaços, etc.  

A seguir, o professor pediu que cada equipa conversasse sobre a forma como comunicaram entre si e resolveram ou não os desafios (depende sempre da forma como corre a resolução das tarefas, se tiveram êxito ou não, se falaram envolvendo todos, se alguém foi precipitado, etc. É sempre bom ter alguém como observador destas atividades e depois diga como viu os seus colegas a resolver estes desafios).

Por fim, tiramos algumas conclusões/síntese sobre os principais aspetos a ter em conta na resolução deste tipo de desafios realçando aspetos relacionados com a comunicação, coesão, liderança, etc, etc, fazendo-se depois a transferência para o que se passa no campo de jogo/na empresa quando se tem de ultrapassar o desafio de vencer a equipa adversária ou um desafio qualquer.

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